quinta-feira, 10 de junho de 2010

Momentos Coletivos: Inverno

De segunda à sexta milhares de pessoas se dirigem de manhã cedo para os pontos de ônibus da capital mineira. Durante o mês de junho, a maioria se agasalha, cruza os braços e sonha acordado com a cama quentinha em que estava dormindo.

Quando entram no ônibus ainda vazio – saindo do ponto final – elas se encolhem e se acomodam para a viagem diária. Até aí tudo bem, mas o que incomoda a estudante Fernanda, mais ainda que as pernas apertadas entre os bancos, é a falta de iniciativa para abrir as janelas.

À medida que o coletivo fica cheio o ar fica pesado, odores se misturam e o pior, “sempre tem alguém com alguma virose para contaminar os vizinhos”.

Fernanda está certa, o risco de contaminação aumenta. Quem não se lembra da campanha de prevenção da H1N1? Mandava lavar as mãos, usar um lenço na hora de tossir e espirrar e evitar locais fechados.

Pois é, além de melhorar a qualidade do ar dentro do coletivo e de prevenir o contágio de doenças é uma questão de bom senso. Até porque o nosso inverno nem é tão rigoroso assim.



Momentos Coletivos: Trânsito


Ontem Dona Maria (doméstica, 33 anos, moradora do bairro da Glória) estava reclamando do tempo que fica dentro do ônibus. As viagens de ida e volta para a casa da patroa, que mora no Cidade Jardim, ocupam 3 horas do dia dela.

Mas também não é de se espantar, Belo Horizonte tem cerca de 1,205 milhão de veículos rodando pelas ruas. O engarrafamento, da manhã e da noite, tira qualquer um do sério e só piora o humor de motoristas, passageiros e pedestres. As buzinas ajudam a deixar situação ruim, mas o que complica mais é a situação do transporte público.

Foi Dona Maria que disse “pior do que ficar três horas no ônibus todos os dias é ficar três horas em pé no ônibus todos os dias”. Os coletivos da capital circulam com mais pessoas do que é recomendável e o conforto é lenda na maioria das linhas. Se pelo menos o trânsito fosse melhor...

Só de pensar na possibilidade de aumentar o acesso ao metrô em BH a população já sorri, afinal “congestionamento de trem é mais difícil né?!”. Bem falado Dona Maria.


quarta-feira, 9 de junho de 2010

Seres coletivos: o trocador

“Tem gente na firma que gosta de fazer o itinerário rápido. Aí eu te pergunto: pra chegar na garagem e fazer o quê? Nada?! Eu prefiro muito mais o trânsito”, foi o que disse Geraldo, o trocador do 5401 das 17h, em dias úteis, sentido bairro. Ele tem uma aparência de uns 29 anos, olhos amarelados, moreno, jovem e bem disposto. O curso noturno em administração, a esposa e o pequeno David de 3 anos, que para muitos poderiam ser empecilhos, para ele são motivos de ‘glória’.“Eu me apego com Deus, cara. Tava muito perdido nessa vida quando tinha uns 20 anos... agora as coisas estão entrando nos eixos”, lembra o contador de histórias. Geraldo tem dois grandes amigos no ônibus: o motorista e o passageiro que senta na cadeira ao lado da dele, depois da catraca.

Pros dois, ele fala sobre a crise de renite que David teve na semana passada, do absurdo que está o time do galo [como o Cruzeiro está pior ainda, só pra sacanear Betão, o ‘motô’] e como bom vai ser quando ganhar na mega sena. Pro amigo de lá, fala de boatos sobre o ‘Gustavo do 5102’ e, pro amigo de cá, sobre como já pegara a loira gostosa que estava descendo. Sempre aos risos. Esse pode mesmo ser o Geraldo e foi bem isso mesmo que pareceu. Mas é o que consegui com uma conversa de 20 minutos. E só. Vai ver ele estava só estava de bom humor.

Seres coletivos: o calouro

Todos os olhos convergiam para ele, de onde eu estava, também olhando, senti pena. Um pobre coitado e fétido ser humanóide multicolor, vulgarmente chamado de calouro. O ônibus havia passado em frente a uma universidade e ele havia dado o sinal. O motorista parara só para dizer “assim você não sobe no meu Carro, garoto”. Como respondera o garoto, “se quiser, eu tiro a roupa”, foi lhe dada entrada. Vestido, claro.

Sem exceção, as conversas sobre o clima e a novela das 8 se calaram, para ver a aquarela ambulante passar. Quando ele parou para procurar lugar, todos nós que já estávamos dentro sabíamos o que restava: aquele lugar, na última fileira, no centro. Só lá havia espaço. Sentou-se e, curiosamente, os próximos foram justamente os pontos das pessoas daquela fila. Com uma cara meio de asco e de diversão, ‘aquilo’ ficou sozinho por alguns metros. O cheiro empestava o automóvel. Nesse instante, vi subir uma distinta jovem senhora impecável executiva bem sucedida, provavelmente. Ela entrou e ficou em pé, há três metros da fileira que parecia feita de estrume. Só me lembro de ouvi-la dizer “não, muito obrigado, meu ponto já está chegando”. Bem, duas horas depois e já no penúltimo ponto que era o meu, antes de descer, ainda a vi estacada no mesmo lugar.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Trabalho da disciplina Redação Jornalística
UFMG - Comunicação Social - 2010/1º